Viver intensamente talvez seja o maior
clichê que já tenha ouvido. Viver intensamente, penso EU, está além do que
defende o positivismo, o carpe diem ou
qualquer outra teoria social. Vivemos intensamente quando pensamos ou não na intensidade
do que estamos fazendo. Depois de dez meses dedicando nossas vidas, a
residência, muito além dos corredores do Hospital São Paulo é inquestionável
todo o aprendizado e peso que passamos a carregar. E a sabedoria e força
advindas desse processo nos permite entender que não estamos isentos dos erros
e tolices inerentes aos sentimentos de vaidade e egoísmo que inexoravelmente
fazem parte de nós. Talvez o mais acertado a se dizer é que vivemos
intensamente contracenando personagens e projeções de um EU que gostaríamos de
ser, e isso em detrimento, das nossas fragilidades.
O super herói é uma projeção
recorrente no profissional de saúde [relato de vivência]. Pensar o porque pode
nos levar a várias explicações, a mais oportuna, é que o nosso conhecimento e
habilidade em estabelecer relacionamentos interpessoais cabíveis ao cuidar nos
traz a sensação de bem feitores, e isso em detrimento, da realidade que a
salvação é um conceito relativo [salvamos quem? de quem?]. Não que isso anule
os méritos da ação, mas se precisamos estar adaptados para melhor convívio como
disse o Charles, talvez devêssemos assumir qual o verdadeiro objetivo das
nossas ações.
Viver intensamente significa
dedicar-se em fazer algo ou em fazer nada. Portanto, ser irresponsável,
inconsequente e preguiçoso é tão intenso e elegível a vida quanto a disposição
e o compromisso. Assim a ideia de que precisamos de mais momentos felizes do
que do sofrimento, cansaço e decepção se consolidam como ideias frágeis. E os
rótulos que acabamos internalizando como forma de expressão, nada mais são, do
que os figurinos destes atores da vida. Logo aqui vale a reflexão de como um
ser mais adaptado lida com a alegria, irresponsabilidade, disposição e
sofrimento a seu favor.
De forma oportuna, para nos proteger das
nossas faltas, muitas vezes passamos a culpar o sistema, a mudanças inalcançadas,
o colega mal humorado, o paciente não colaborativo, por nossas frustrações ... saber viver
esses sentimentos são importantes, mas viver deles limita as oportunidades de passar
por outras experiências de adaptação.
Acordei hoje com alguns gritos na
garganta, arrependimentos e um pouco de auto resignação, pensando em dizer algo
diferente e compartilhar ideias que acabaram se perdendo no texto. Só acho que
o que o Nietzsche quis dizer com "O homem é um conceito e algo que
deve ser superado..." faz todo sentido, precisamos nos
cobrar menos e tirar do dia a dia “o prazer e a dor de ser o que somos”, e isso
sem rótulos, humanamente falando.
Danilo Ponciano