domingo, 22 de abril de 2012

“Faz Parte do Show”


        A semana de um residente é mais instável do que... o tempo em São Paulo (analogia não muito boa, mas que faz jus ao que quero dizer!). Os inícios são sempre ‘nublados’, com uma frieza ao mesmo tempo acolhedora e cruel. -Somando-se: noites mal durmidas, má nutrição, desgaste físico e mental ... e ao nosso auto-rigor inevitavelmente nos torna um sinônimo de privações!. – Aliando estas, às inconstâncias dos relacionamentos do dia a dia de trabalho, não seria exagero dizer que estamos vivendo numa montanha russa de emoções.
        As segundas é sempre doloroso sair de casa ... olhar pra trás é estar certo de que o final de semana passou num suspiro, que não houve descanso algum, estudo zero e pior de tudo ... rs ... pouca diversão. Esses dias são infindáveis (só não ganham da sexta feira!). Nas terças e quartas, vestir o ‘jaleco’ torna-se mais confortável ... as aulas vespertinas ajudam a quebrar um pouco a rotina e a encurtar o nosso dia, ‘é aconchegante como tomar solzinho no frio’.
        As quintas ... o cansaço pega nas nossas ‘mãos’ e não nos deixa mais ! ... mesmo dedicando ao nosso trabalho a devida atenção, o corpo pede ‘arrego’, sentimentos de vulnerabilidade se afloram e a empatia nas nossas relações se intensificam, aqui os feixes de ‘sol’ ficam mais quentes. Sexta feira começa com a tensão de uma bomba relógio em progressão! ... a cada minuto findado / uma alteração no intervalo QT, aqui o ‘solzão’ ta gritando vem ni mim e a ansiedade pelo final do experiente prolonga ainda mais a passagem do tempo!. Já os sábados e domingos! Já te contei lá em cima, [talvez não tenha percebido] ... mas é que passa rápido mesmo!
        Falei disso ... do ‘lado A’ ... sem conseguir me esquecer do ‘lado B’. O lado A seria nossa percepção de si, de nossas necessidades, do nosso comportamento ao longo dos dias. E o lado B, são os lugares que já passamos e todos os que ainda passaremos, as influências e as contribuições que deixaremos. Assim como no A, o B tem início, meio e fim. – Sendo estes também muitas vezes obscuros, frios e nem sempre acolhedores mesmo estando com nossa empatia a disposição. O importante é não perder de vista que toda ‘semana’ é instável e que a CNTP (condições normais de temperatura e pressão) é uma condição idealizada, nem por isso, devemos deixar de “experenciar” o que as inconstâncias tem a nos oferecer de aprendizado!

 Boa semana!

Vago na lua deserta / Das pedras do Arpoador / Digo "alô" ao inimigo / Encontro um abrigo / No peito do meu traidor

Danilo Ponciano
Residente – Farmacêutico Bioquímico
Programa: Transplante e Captação de Órgãos

domingo, 15 de abril de 2012

Simples Sorriso


 Como fazer parte de um sistema que é de todos? Como entender as diferentes perspectivas? Como assumir o papel de profissional de saúde, com empatia aos problemas alheios e ao mesmo tempo ser imune a contratransferência? - Essas são dúvidas que fazem parte do nosso dia a dia como residentes. Na teoria há estratégias consonantes, no entanto, a prática é tão dinâmica e complexa, que muitas vezes, subverte os planos.
O complexo hospitalar da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina) assim como a grande maioria dos hospitais escolas distribuídos pelo país oferece-nos um campo de atuação rico, no que se refere, a sua contemplação epidemiológica, ou seja, permiti que atendamos casos extremos que dificilmente encontraríamos em outros serviços. Contudo, justamente pelo porte impõe desafios aos residentes de passagem, sobretudo aos multiprofissionais. – E entender qual a dinâmica adotar nos diferentes cenários que passaremos faz parte do aprendizado! Ademais, na perspectiva de quem está por fora do multiprofissionalismo e se pautando na lei da inércia é preciso considerar que somos (humanos) avessos as mudanças, cabendo a NÓS a responsabilidade de mostrar (com jeitinho) o porque a mudança é melhor e mais que isso necessária, incluindo-se aqui o ‘esclarecimento’ da contribuição que cada multiprofissional tem a acrescentar ao serviço!
Falar em relações humanas é sempre muito complexo e por mais que se estabeleçam padrões de abordagem estas nunca conseguirão contemplar de modo satisfatório a infinidade de situações possíveis. Portanto, pensar no modo de atendimento e como interagir com minha equipe é uma preocupação elegível e sempre necessária. Isso significa que encontraremos resistência, obstáculos de comunicação, dentre tantos outros desafios que ora totalmente, ora parcialmente terão sua resolutividade em nossas mãos. - Quem dera tivéssemos uma fórmula pra isso! No entanto, o que a experiência mostra é que caminhos mais abertos a discussão das diferentes perspectivas e a interlocução entre os profissionais e profissional-paciente são mais salutares e portanto com maiores benefícios as partes envolvidas!
A atuação de um profissional de saúde é sustentada pelo conhecimento técnico e pelo humanismo. E a contemplação de que estes pilares se sobrepõem é imprescindível para que não deixemos de ser ao mesmo tempo técnicos e humanos nos nossos atendimentos. – Essa é um tarefa difícil! As vezes nos encontramos em situações conflituosas, onde a empatia passa a (pré)contratransferência e inconscientemente perdemos a objetividade ao ver nosso paciente, como um parente, amigo, etc... a barreira entre empatia e contratransferência é muito tênue, precisamos ficar atentos de modo a manter o profissionalismo!
Em síntese, é preciso entender que as dúvidas serão frequentes e os desafios intermináveis! ... hoje, o obstáculo é a inserção de um atendimento multiprofissional nos serviços de saúde, amanhã ... será outro qualquer, e depois tantos outros... isso faz parte da constante construção de sociabilidade humana, aceitar isso não significa estar inerte aos modelos impostos tampouco consentir, mas sim encarar com maturidade e equilíbrio, se permitindo maior preparo na condução das relações do dia a dia!
Boa semana galera, não vamos deixar que nossas inseguranças nos limitem, todos somos essênciais ... e as vezes, a resistência agente vence com um simples sorriso!


“Não faço pra te aborrecer / nem eu me entendo direito / meu jeito não da pra prever / as vezes da defeito / ... / as vezes o silêncio tapa os buracos / o amor prossegue intacto” 


Danilo Ponciano
Residente - Farmacêutico Bioquímico
Programa: Transplante e Captação de Órgãos

domingo, 8 de abril de 2012

Diálogo 1 x Burocracia 0


Voltar ao trabalho após o feriado é sempre conflitante!... não importa, se você é da área da saúde ou não, afinal trabalho é trabalho!. Aliás, apesar das nuances os serviços na área de saúde também são ambientes coorporativos que exigem uma estrutura hierárquica de modo a manter sua homeostasia organizacional. E fazer parte disso impõe-nos necessariamente uma subordinação a regras que nem sempre concordamos e tampouco em consonância com o que julgamos ético!.
No dia a dia, são muitas as barreiras burocráticas que temos que lidar no gerenciamento dos cuidados dos pacientes. E tendo em vista, nossa completa ignorância frente a muitos desses mecanismos, torna-se imprescindível investimentos na formação de profissionais de saúde que sejam também gestores e críticos frente às políticas públicas. Entendo que quando se está lidando com a vida humana não podemos aceitar que barreiras burocráticas limitem os cuidados e possibilidades terapêuticas aos indivíduos. Isso não significa dizer que uma estrutura organizacional é dispensável na saúde pública, afinal para a viabilidade de qualquer serviço é preciso administrar com competência seus recursos (que cá entre nós são escassos!).
No contexto da formação multiprofissional vejo como saudável a reconsideração de muitas estruturas, umas a tempo consolidadas ... inclusive na depauperação do atendimento aos usuários. É indiscutível que muita da burocracia do nosso dia a dia vem em paralelo ao nosso sistema judiciário e governamental, no entanto, outras tantas são criadas por nós (aos gestores e futuros!) que inconscientemente aderimos influências ligadas as profissões, culturais, dentre outras. A partir do momento que estabelecermos uma rede integrada que favoreça a comunicação entre os setores e/ou serviços de saúde conseguiremos ter maior segurança e respaldo nas nossas decisões em detrimento do atendimento insatisfatório e muitas vezes desumano.
Um exemplo clássico de falta de comunicação e recorrente no dia a dia das farmácias são as receitas com informações incompletas e/ou fora da data de validade. Fazendo com que muitas vezes o farmacêutico seja obrigado a não liberar o medicamento e ficar com fama de intransigente! - Imagem que modéstia a parte, posso dizer com segurança que não é procedente, somos sim profissionais de saúde e sedentos por colaborar com o serviço, no entanto há barreiras legais e elegíveis pelo bem estar da população que nos obrigam ter rigor nas informações prescritas!
Em suma, há muitos outros obstáculos a serem vencidos! - E esse plano só será exequível a partir do momento que cada profissional assumir suas competências e se abrir ao diálogo multiprofissional. Afinal todos somos passíveis a erros e felizmente a aprender, e isso se torna ainda mais valoroso quando em benefício dos usuários dos serviços que prestamos (os nossos pacientes!)

"Que a intenção da autoridade não resume nada aqui! / Aqui estou! Sua licença para aproxegar! / Cê me desculpe mas eu vou falar!"



Boa semana!

Danilo Ponciano
Residente - Farmacêutico Bioquímico
Programa: Transplante e Captação de Órgãos


domingo, 1 de abril de 2012

Jack Soul Brasileiro



Organizar as ideias. Nem sempre uma tarefa fácil, depois desse primeiro mês então! É difícil dizer o que é prioridade... Ainda estamos em processo de entender qual o nosso papel nos serviços, ainda que, diariamente já tomando posse e nos co-responsabilizando nos cuidados dos pacientes e na direção e remanejamento das propostas de trabalho. Essa semana, mas do que o normal, tive saudades de casa, da tranquilidade bucólica do interior, de ouvir as futilidades e reclamações repetitivas da minha mãe, das brigas sem motivos dos meus irmãos ...  do olhar de respeito e admiração da minha velhinha (avó) me chamando de dotor, de ficar em casa sem nada pra fazer, de poder assistir um desenho na TV, de rever os amigos do colégio...!
Entender que compartilhamos as mesmas dores, saudades e inseguranças das pessoas com quem nos importamos, sejam elas parentes, amigos ou pacientes talvez seja ainda mais desafiador que entender o papel profissional que devemos ocupar. Costumo pensar que esclarecer o que eu poço fazer individualmente a cada parente, amigo ou paciente instiga minhas habilidades e favorece o raciocínio objetivo, se não eficaz ao menos mais seguro. Eh por falar em segurança, as vezes noto que inconscientemente nos habituamos a reclamar e a levantar problemas em detrimento do ouvir, observar, compartilhar e na construção de possibilidades, se isso não é mais seguro, pelo menos salutar ao modelo social!.
No dia a dia do hospital acompanhando a dor dos pacientes, percebo que “todo mundo é igual quando sente dor”, isso é clichê, no entanto, quando a dor é na gente (física ou psíquica) o egoísmo toma tais dimensões que parece que somos únicos (e somos mesmo, dependendo da perspectiva!). Mas Eles também se sentem desconfortáveis, muitas vezes são obrigados a expor suas intimidades, fraquezas e ainda assim estão solícitos pelo direito a continuidade da vida ... estar de saco cheio faz parte! O interessante é que nossa capacidade de aprendizado se faça presente, seja no bom ou no mau momento.
Esse final de semana passou voando! ... o sol saiu por pouco tempo, quem eu queria ver não vi e amanhã tem mais ... aos meus amigos da residência multi parabéns pela conquista deste primeiro mês! No final das contas acho que vem a calhar o “Jack Soul Brasileiro / E que o som do pandeiro / É certeiro e tem direção / Já que subi nesse ringue / E o país do swing / É o país da contradição
Boa semana!


Danilo Ponciano
Residente - Farmacêutico Bioquímico
Programa: Transplante e Captação de Órgãos