As
indicações de transplante como tratamento terapêutico tem uma história recente,
no entanto, desde a mitologia grega que aguçava-nos como uma possibilidade de
vida eterna. A vista, de Dédalo que para fugir da prisão de Creta se auto
implantou asas de pássaros, nos últimos cem anos avanços no conhecimento e nas
tecnologias em saúde vem trazendo novas perspectivas ao tratamento e cura de
doenças. Dizer isso, significa que vivenciamos um cenário onde os cuidados
paliativos de indivíduos com doenças hepáticas, cardíacas, pulmonares,
pancreáticas e/ou renais incuráveis deram lugar a possibilidade de um recomeço.
O
processo de transplante de órgãos vem sim crescendo! [os motivos são diversos,
desde o aumento da sobrevida até o aprimoramento das técnicas de conservação
dos órgãos] - sobretudo, no que se refere a ferramentas farmacológicas com
maior eficácia no manuseio dos processos de rejeição do enxerto, redução de
efeitos colaterais, na possibilidade de individualização de doses e nos
aspectos farmacoeconômicos envolvidos. Em suma, corroborando para o uso
racional de medicamentos, que segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) “há uso racional de medicamentos quando
pacientes recebem os medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em
doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao
menor custo para si e para a comunidade”. Ademais, o empenho
multiprofissional e multidisciplinar tem possibilitado avanços nas condutas no
pré e pós transplante. A saber, nos aspectos epidemiológicos e sociais,
reabilitação motora, cuidados e acompanhamentos ambulatoriais, psicologia do
transplante e no suporte das mudanças dos hábitos de vida.
Apesar
da grande esperança que a troca da “pilha” dos motorzinhos fisiológicos traz
para pacientes nas condições supracitadas há grandes limitações devido a
desigualdade na “oferta e procura” de órgãos, no nosso país e no mundo. Parte
desta problemática está etiologicamente ligada a falta de políticas públicas de
educação que levem ao conhecimento das pessoas todo o contexto da doação de
órgãos. Ainda hoje, mesmo nos cursos de graduação o conhecimento sobre
transplante e doação de órgãos é superficial exigindo que os profissionais
tenham especialização na área. Pontualmente, a resistência a doação se
concentra no desconhecimento do conceito sobre morte encefálica, ou seja, no
requisito básico, primordial e indispensável para aceite de um órgão. A saber,
como definido pelo neurocirurgião Eric Grossi Morato “A morte encefálica representa o estado clínico irreversível em que as
funções cerebrais (telencefalo e diencefalo) e do tronco encefálico estão
irremediavelmente comprometidas” ou seja, onde não há possibilidade de
reversão. Para diagnóstico de morte encefálica nosso país tem uma das políticas
mais rigorosas e seguras de todo o mundo, hoje é exigido “dois exames clínicos,com intervalo de no mínimo seis horas entre eles,
realizados por profissionais diferentes e não vinculados com a equipe de
transplantes. É obrigatória a comprovação, por intermédio de exames
complementares, de ausência no sistema nervoso central de perfusão ou atividade
elétrica ou metabolismo. Morte encefálica significa morte tanto legal quanto
científica.”
Por
fim, vale ressaltar que apesar da “nova chance” conquistada por muitos desses
pacientes contemplados nas filas de transplante ainda há muitos desafios a
serem vencidos [na captação e no pós-transplante!]. Parte considerável desses
pacientes não conseguem responder de forma efetiva a farmacoterapia do
transplante, aderir as mudanças de hábitos de vida (nutricionais p. ex.), bem
como, o papel que as idiossincrasias [nesse contexto talvez sinônimo de
desconhecimento científico] tem na vida pós-transplante. Como farmacêutico,
vislumbro um mundo de possibilidades e um emaranhado de nós que sozinho são
impossíveis de desatar, por ora sinto a gratificação dos pacientes acompanhados
e o que o pouco do dia a dia tem contribuído na adesão da farmacoterapia! -
nessa semana no acompanhamento de um procedimento o paciente me disse “agora
que você está aqui estou tranquilo de que tudo vai dar certo!” a estes e todos
os outros dou meu coração!.
Bom
final de semana!
“É
tão forte quanto o vento quando sopra / Tronco forte que não quebra, não
entorta / Podes crer, podes crer / Eu to falando de amizade!”
Danilo
Ponciano
Residente
- Farmacêutico Bioquímico
Programa: Transplante e Captação de Órgãos